A disseminação do uso de crack tornou-se um flagelo social em praticamente todos os municípios brasileiros. Isto ocorre principalmente pela falta de políticas públicas voltadas para a questão das drogas em nosso país. Muito se fala, mas quase nada se faz na prática para minimizar este grave problema.
A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Brasil é que existam 3% de usuários de crack, o que implica em seis milhões de brasileiros. O Ministério da Saúde trabalha com dois milhões de usuários, ou seja, cerca de 1%. O que interessa é que, seja qual for o número, o problema está a “olhos vistos”, não há como negar. Ademais, mais importante que os números, são exatamente os problemas e consequências que estas substâncias têm provocado em seus usuários, familiares e sociedade como um todo.
A OMS não admite que estamos diante de uma “epidemia” de crack, embora admita que o uso indevido de drogas, constitui-se no maior problema de saúde pública da atualidade.
O importante é que independente de estarmos ou não acometidos por uma epidemia, faz-se necessário que as autoridades tratem o problema politicamente como uma epidemia.
Estudos da Universidade Federal da São Paulo (Unifesp) demonstram que apenas um terço dos usuários de crack deixa o vício e encontra a cura, outro terço mantém o uso e outro terço morre, sendo que em 85% dos casos são relacionados à violência. Os pesquisadores apontam também que não há nenhum tratamento medicamentoso aprovado para dependência de crack. Dessa forma, a boa prática direciona-se no sentido da adoção de uma visão multifocal para o tratamento da dependência desta droga.
Assim, vi com satisfação nestes últimos dias, a apresentação de uma cartilha educativa, apresentada pelo Conselho Federal de Medicina, que relaciona algumas Diretrizes Gerais para Assistência Integral ao Usuário do Crack. O citado documento aponta para a necessidade de uma abordagem física, psicológica e social ligada também às questões legais e qualidade de vida num tratamento que vise à abstinência e a prevenção de recaídas. A cartilha educativa defende uma abordagem interdisciplinar e uma rede integrada de atenção psicossocial, que devem propor ações preventivas de sensibilização e capacitação dos profissionais de saúde e educação, bem como a identificação precoce e encaminhamento adequado dos usuários.
Não há dúvida que esta é uma boa iniciativa desta entidade de classe. Espero confiante, que a prática realmente venha a acontecer. E que outras entidades e pessoas, especialmente o poder público, também façam a sua parte.
É sabido que não existe um modelo ideal e nem mesmo uma fórmula mágica de prevenção e tratamento ao uso indevido de drogas. Mas uma coisa é certa: mais do que pessoas envolvidas, precisamos de pessoas comprometidas, haja vista, que o maior risco que corre a humanidade não é o grande número de pessoas que fazem o mal, mas sim a multidão daquelas que, mesmo podendo impedir que o mal aconteça, não o fazem.
Deusimar Wanderley Guedes - Psicólogo e advogado - deusimar.drogas@hotmail.com
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